PMP

Conheça os PMPs e como os veterinários de animais marinhos atuam neste mercado.

Conversei com o Dr. André Barreto para entender melhor o papel dos veterinários dentro dos Projetos de Monitoramento de Praias (PMPs)


O mercado de trabalho para médicos veterinários atuando com animais marinhos vem crescendo bastante no Brasil.  Uma das razões deste crescimento atende pelo nome de Projeto de Monitoramento de Praias ou PMP. Mas o que vem a ser PMP e que oportunidades ele traz para os médicos veterinários? 

No Brasil, quando uma empresa pretende explorar petróleo ou gás no mar ela necessita de uma licença ambiental emitida pelo IBAMA. Normalmente no processo de licenciamento são exigidas uma série de condicionantes ambientais, ou seja, condições, restrições e medidas de controle ambiental que devem ser atendidas pelo empreendedor visando minimizar ou compensar impactos no meio ambiente. Uma destas condicionantes é justamente o Projeto de Monitoramento de Praias.

O PMP funciona com monitores percorrendo diariamente as praias da área de impacto do empreendimento e registrando os locais de desova de tartarugas e também os animais marinhos encontrados nas praias vivos ou mortos. Quando  é encontrado um animal debilitado  que necessite de tratamento ele será resgatado e levado para um centro de reabilitação. No caso das carcaças encontradas nas praias elas serão necropsiadas para  determinação da causa da morte.  Este é basicamente o desenho de trabalho de um PMP.

Embora sejam mais comuns em projetos de exploração de petróleo, os PMPs também podem ser exigidos para construção de portos e outros empreendimentos localizados no litoral.  Os primeiros PMPs , funcionando neste modelo, começaram em 2009 mas com o início da exploração do petróleo na camada do pré-sal, especialmente na Bacia de Santos, houve um aumento nas áreas monitoradas pelos PMPs. 

Atualmente temos cinco PMPs  ligados à exploração de petróleo em  funcionamento no litoral brasileiro:

PMP Bacia Potiguar - Desde 2009, vai de Aquiraz (CE) até  Caiçara do Norte (RN).
PMP Bacia Sergipe-Alagoas - Desde 2010, vai de Pontal do Peba (AL) até Sitio do Conde (BA).
PMP Bacia de Campos-Espirito Santo - Desde 2010, vai de Conceição da Barra (ES) até Saquarema (RJ).
PMP Bacia de Santos - Fase 1 - Desde 2015, vai de Ubatuba (SP) até Laguna (SC).
PMP Bacia de Santos - Fase 2 - Desde 2016 e vai de Paraty (RJ) até Saquarema (RJ).

Como este tipo de condicionante ambiental é exigida durante todo o período de exploração a perspectiva é de que este mercado não apenas se mantenha mas venha a crescer e gerar novas oportunidades de emprego nas próximas décadas.
Para saber mais sobre os PMPs e as oportunidades para médicos veterinários eu conversei com o Dr. André Barreto, biólogo marinho, professor da UNIVALI e Coordenador Geral da Área de SC/PR do PMP da Bacia de Santos. O Projeto de Monitoramento de Praias da Bacia de Santos (PMP-BS) é uma atividade desenvolvida dentro do licenciamento ambiental federal do Pólo Pré-Sal da Bacia de Santos pela PETROBRAS, conduzido pelo IBAMA.

Milton: André, queria começar te perguntando quantos veterinários atuam no PMP-BS no litoral de São Paulo até Santa Catarina?

André: Até 2019 eram 58 médicos veterinários trabalhando no litoral de São Paulo, Paraná e Santa Catarina. Destes 41 foram contratados como veterinários e os demais estavam em outras funções, principalmente como técnicos de campo.

Milton: E qual é o principal trabalho executado por um veterinário dentro do PMP?

André: O objetivo principal do PMP-BS é avaliar as possíveis interferências das atividades de produção e escoamento de petróleo e gás natural na Bacia de Santos sobre os tetrápodes marinhos, compreendendo aves, répteis (quelônios) e mamíferos marinhos através do monitoramento das praias. Então a atuação de médico veterinário dentro do PMP-BS segue duas linhas principais: tratar os animais que necessitem de cuidados, visando sua devolução para a natureza, e  investigar a causa da morte dos animais encontrados encalhados nas praias. Deste modo, acabamos avaliando todos os problemas que estes animais apresentam como por exemplo animais presos acidentalmente em equipamentos de pesca, a ingestão de lixo marinho, a contaminação por poluentes, etc.

Milton: E qual a infraestrutura para poder realizar este trabalho?

André: Foram construídos dez centros de reabilitação ao longo do litoral destes três estados. Dentro do PMP-BS dividimos as instalações em dois tipos: Unidades de Estabilização (UE) e Centros de Reabilização e Despetrolização (CRD). As primeiras são estruturas menores, onde os animais ficam menos tempo, até se estabilizarem e poderem ser enviados para os CRDs. Estes centros possuem recintos para alojar os animais por mais tempo, e contam com centro cirúrgico, ambulatório, sala de necropsias e infraestrutura para tratar animais em caso de derramamento de óleo.

Milton: Onde estão localizados estes Centros?

André:  Em Santa Catarina temos três UE: em Laguna, Penha e São Francisco do Sul, e um CRD em Florianópolis.  No Paraná há um CRD em Pontal do Paraná. Os outros cinco estão no litoral paulista, sendo duas UE em Praia Grande e São Sebastião, e três CRDs em Cananéia, Guarujá e Ubatuba.

Milton: E a incidência de ocorrências é muito grande?

André: É bem maior do que a gente esperava. Desde de 2015 quando começamos o PMP até 2019 foram 65.699 ocorrências de São Paulo até Laguna (SC). Destes quase 89% eram carcaças encontradas nas praias e 11% eram animais vivos.

Milton: Então uma boa parte do trabalho é fazer necropsia para identificar a causa da morte?

André: Sim, essa é a maior parte do trabalho, e por isso precisamos de bons patologistas. Mas se pensarmos que os 11% de animais vivos correspondem a mais de 7.000 animais em cinco anos, é um número bastante significativo.

Milton: E como foi implantar este projeto?

André: Foi um desafio e tanto. Trabalhamos com instituições que já atuavam ao longo do litoral destes três estados, mas havia falta de profissionais com experiência para trabalhar na área. Foi preciso estabelecer protocolos, realizar treinamentos para capacitar as equipes de forma que o trabalho seguisse um padrão.

Milton: E passados cinco anos de operação o que você destacaria em relação ao PMP?

André: A quantidade de animais encalhados surpreendeu a todos.  Como antes só existiam monitoramentos pontuais e não se percorria as praias diariamente ninguém imaginava o tamanho do problema. Quando pegamos os dados e separamos por espécies temos uma noção maior do impacto que algumas espécies estão sofrendo. A quantidade de toninhas e de tartarugas-verde que morrem todos os anos é assustador.

Milton: Obrigado André por compartilhar esta experiência com a gente.

André: Foi um prazer colaborar.


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