RESGATE

Encalhe em massa de baleias na Tasmânia é o maior da história australiana

Mais de 370 baleias já morreram, o que preocupa o mundo todo, e a NetVet News conversou com um especialista para saber mais sobre o assunto.


Equipes de resgate da Austrália correm contra o tempo para salvar o máximo possível de vidas na costa da Tasmânia. Graças a esse evento catastrófico, veterinários e biólogos do mundo todo estão abalados e preocupados com as vidas que ainda sofrem sérios riscos. 

Para esclarecer as principais dúvidas sobre o assunto, o especialista Milton Marcondes, que mantém contato com as equipes que estão trabalhando no caso, conversou com a NetVet News. Confira, a seguir, a entrevista realizada.

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O que se sabe, até o momento, sobre o encalhe que está ocorrendo na costa oeste da Tasmânia? 

Milton Marcondes - Esse encalhe em massa que está acontecendo na Tasmânia, já é considerado o pior encalhe em massa da Austrália, isso porque, em poucos dias, mais de 450 baleias-piloto encalharam e pelo menos 370 já morreram. As equipes de resgate conseguiram colocar de volta ao mar 25 animais, mas dois voltaram a encalhar.

Consideramos encalhe em massa quando dois ou mais animais, que não sejam mãe e filhote, encalham simultaneamente. Geralmente  os encalhes  em massa ocorrem em espécies que têm o hábito de viver em grandes grupos. É justamente o caso das baleias-piloto. Elas vivem em grandes grupos e quando acontece uma situação dessas, o grupo inteiro, ou uma boa parte do grupo, acaba encalhado.

Entre as causas de um encalhe em massa estão, por exemplo, as epidemias ou doenças que podem desorientar os animais, ou às vezes afetar apenas o animal que é líder do grupo, e nesse caso, o líder do grupo acaba errando o caminho e levando os demais membros para a mesma direção.

Outra causa possível dos encalhes em massa, e que ocorre principalmente na Nova Zelândia e em alguns locais nos Estados Unidos, são as armadilhas naturais. São locais onde o relevo do litoral favorece algumas situações, como baías com águas rasas e entradas estreitas, em que os animais conseguem entrar e depois não conseguem sair. 

Além disso, existem as situações onde os animais estão fugindo de predadores e o desespero os leva a procurar locais de águas rasas para fugir, e acabam encalhando. Pode ocorrer o contrário também, quando os animais estão perseguindo um cardume de peixes e acabam encalhando.

Não podemos deixar de citar também as atividades humanas. É comum ocorrer o encalhe em massa de baleias-bicudas em locais onde a Marinha americana realiza exercícios militares. Nessas situações, o uso de sonar produz um som muito intenso que faz com que esses animais, que mergulham em grandes profundidades, subam muito rápido para superfície e acabem morrendo de doença descompressiva. 

O fato é que, quando você tem um cenário como este, onde centenas de animais estão encalhados na praia ao mesmo tempo, não há muito o que fazer. É o pesadelo de qualquer veterinário.

Milton Marcondes

Em resumo, são várias as causas possíveis para esse encalhe na Tasmânia, e neste momento não é possível afirmar o que está acontecendo com esses animais. Os veterinários e biólogos terão mais elementos para analisar a situação após a realização de necrópsias e exames complementares.

Qual o papel dos veterinários e biólogos nessa situação? Quais as chances de sucesso em uma operação como essa?

Milton Marcondes - A Comissão Internacional da Baleia (The International Whaling Commission - IWC), na qual o Brasil é signatário, tem um grupo de especialistas em encalhes, e eu faço parte desse grupo. Temos acompanhado de perto, tanto a situação que aconteceu nas ilhas Maurício, com o derramamento de petróleo do navio que se rompeu, como também, agora, essa situação da Austrália. 

Geralmente, oferecemos ajuda para o pessoal de campo, orientando na condução dos procedimentos e, em alguns casos, chegamos a deslocar uma equipe do nosso time até o local. Ocorre que a Austrália tem tradição na formação de profissionais para o trabalho de resgate de animais nessa situação. A equipe que está atuando na Tasmânia é bem preparada e está conseguindo lidar com o ocorrido.

O fato é que, quando você tem um cenário como este, onde centenas de animais estão  encalhados na praia ao mesmo tempo, não há muito o que fazer. É o pesadelo de qualquer veterinário. Não há uma instalação próxima que permita receber todos esses animais que necessitam de tratamento. O que geralmente se faz, nessa situação, é realizar uma triagem dos animais com o objetivo de identificar quais tem condições de serem devolvidos para a água imediatamente. Procura-se atender aqueles que não estejam debilitados, que não apresentam ferimentos e que estejam em condições de serem devolvidos com boas chances de sobrevivência. 

Os animais considerados muito debilitados, pouco reativos, magros, que apresentam queimadura pelo sol, enfim, animais que não possuem muitas chances de sobreviver, acabam ficando sem atendimento. Até porque, há uma questão de logística difícil de ser resolvida, em razão da elevada quantidade de animais de grande porte comprometidos. São escolhas difíceis, mas necessárias.  

Há a expectativa de que outros animais se juntem a esse grupo, aumentando o número de baleias em risco, assim como aconteceu em janeiro de 2017, na Nova Zelândia?

Milton Marcondes - Nesse caso específico da Tasmânia, primeiro foi localizado um grupo de cerca de 200 baleias-piloto encalhadas, e o pessoal começou a prestar socorros para esse grupo. Em seguida, iniciou-se o monitoramento das praias nas proximidades e outros animais foram localizados, provavelmente pertencentes ao mesmo grupo, que também encalharam.

Até o momento a contagem já passa de 450 animais encalhados e infelizmente a grande maioria, algo em torno de 370 animais, já veio a óbito.

Quando comparamos os números com as ocorrências aqui no Brasil, observamos que as situações são bem diferentes. Os encalhes em massa ocorrem, mas não são tão frequentes como na Nova Zelândia e Austrália. Na década de 80 houve um encalhe em Itacaré, na Bahia, com mais de 400 baleias-cabeça-de-melão. Infelizmente, todas elas morreram. 

Tivemos recentemente, no Rio Grande do Norte, cerca de 30 falsas orcas encalhadas, e o pessoal de resgate conseguiu devolver cerca de 25 ou 26 animais de volta para o mar com sucesso. 

Outro caso foi um raro acontecimento documentado em Arraial do Cabo, quando pessoas filmavam e um grupo de golfinhos, cerca de 20 animais, nadou muito rápido em direção à praia, e encalhou. As pessoas que estavam na praia conseguiram devolver esses animais para a água puxando-os pela cauda, o que não é recomendável, mas naquele momento, ninguém tinha conhecimento de como proceder. O importante é que, com a boa vontade das pessoas que estavam na praia, foi possível devolver esses animais para água e eles saíram nadando, e não voltaram a encalhar. Não sabemos exatamente o que aconteceu em Arraial do Cabo, mas é possível que tenha sido uma fuga de predadores, pois alguns dias antes orcas haviam sido avistadas na região. 

É importante lembrar a todos de que, caso encontrem um um grupo de animais encalhados, o melhor a fazer é entrar em contato com uma das instituições que atuam no resgate desses animais. Ao longo do nosso litoral, temos várias instituições. É importante ligar para especialistas, pois ao tentar devolver o animal imediatamente para água sem examiná-lo, inicialmente ele pode até nadar, mas corre riscos de voltar a encalhar um pouco mais para frente. Portanto, é importantíssimo que veterinários examinem se os animais têm condições de serem devolvidos e, então, façam a melhor tentativa de devolução desses animais para a natureza.

Como é possível perceber nessa entrevista com o especialista Milton Marcondes, muitas podem ser as causas desse acontecimento terrível na Tasmânia. Devemos todos ficarmos atentos aos estudos feitos posteriormente, que identificarão o motivo do maior encalhe em massa de baleias da Austrália. Além disso, torcemos para que as equipes especialistas consigam resgatar o maior número possível de animais em vida.

Veja mais

Mais de 450 baleias encalhadas na Tasmânia, NetVet News, por Tamyris Latuf Gregolini 


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