A planta Cannabis e seus fitocanabinoides
A plantas do gênero Cannabis são utilizadas milenarmente, seja para a confecção de remédios ou fibras têxteis. Atualmente, podemos elaborar de que forma ela age na terapêutica de diversas doenças.
E aqui temos o post do assunto mais perguntado (e polêmico)! Nos primeiros post vocês puderam entender brevemente sobre o que se trata o SEC, e agora podemos abordar as moléculas exógenas que modulam o mesmo.
As plantas do Gênero Cannabis são utilizadas há milênios para diversos usos na sociedade como remédio, fibra para tecidos e/ou cordas, e de forma recreativa em seu uso adulto. A sua classificação se tornou confusa devido a suas diferentes origens e a reprodução artificial feita pelos humanos.
Para a planta conhecida como Canhâmo, a classificação de sua espécie (Cannabis Ruderalis) continua relativamente igual, sendo utilizadas para a produção fibra utilizada na fabricação de tecidos, cordas, cosméticos, plástico, combustível e até mesmo tijolos. Esta espécie produz quantidades praticamente insignificantes de fitocanabinoides e quando comparada com outras colheitas, como a de algodão, produz mais biomassa com menos uso de água, sendo uma das mais promissoras oportunidades que podemos ter no futuro se tratando de sustentabilidade. Entraremos em mais detalhes sobre o Canhâmo em outros posts.
No entanto, no ramo medicinal e adulto da Cannabis as espécies possuem um grande debate em relação a sua classificação. As espécies produtores de resina podem ser separadas em Cannabis Sativa e Cannabis Indica. A sua separação é feita por características físicas e efeitos, sendo a Sativa mais alta e com folhas mais finas, produzindo mais THC, causando efeitos mais eufóricos / energizantes. Em sua contraparte, a Indica é mais baixa e com folhas mais grossas, produzindo mais CBD, e possui efeitos mais calmantes. Essa separação, porém, não está seguindo uma linha clara ao longe do tempo. Alguns botânicos acreditam que ambas fazem parte da mesma espécie e devem ser denominadas como tal (C.Sativa, sendo a Indica uma sub-espécie). As miscigenações entre ambas criou plantas híbridas, que constantemente não seguem os padrões citados anteriormente.
De uma forma mais básica, podemos separar um cultivo dedicado para a fibra, e outro cultivo dedicado para a produção de Fitocanabinoides.
Os fitocanabinoides são as moléculas terapêuticas tão visadas nestas plantas, e sua grande maioria é produzida nas flores produzidas pelas plantas fêmeas. Entre estes, os mais conhecidos são o Tetrahidrocanabinol(THC) e Canabidiol(CBD), denominados fitocanabinoides majoritários devido a sua maior produção pela planta. O principal uso clínico delas atualmente é como analgésico, anti-inflamatório e anticonvulsivo.
A literatura está demonstrando muitos outros efeitos de ambas conforme novas pesquisas vem sendo feitas.
Está ficando cada vez mais claro que apenas as concentrações de THC / CBD não são suficientes para esclarecer os potenciais efeitos individuais de cada produto, seja uma flor ou um óleo.
Já temos descritos mais de 90 fitocanabinoides minóritarios, como: THCa, CBDa, CBG,CBC,CBN, entre tantos outros. Assim como o CBD, eles não possuem efeito intoxicantes mas possuem efeito terapêutico. Ainda temos a presença de terpenos e flavonóides, que caracterizam o cheiro e gosto de um produto e interferem em seus efeitos. Não se assuste se estes termos e nomenclaturas não fizerem sentido de primeira, especialmente se você não é familiarizado com a Cannabis!
A grande fama desta planta é devido ao THC, único fitocanabinoide intoxicante entre os mais de 90 descobertos. É esta molécula que produz os conhecidos efeitos de intoxicantes em humanos como: Olhos vermelhos, estímulo do apetite, sensação de relaxamento, letargia, crises de riso ou paranoias, devido a sua ligação em receptores CB1 no sistema nervoso central.
Fundamentalmente, o THC é um agonista nos receptores CB1 e CB2, e os benefícios que podemos retirar desta molécula incluem: propriedades analgésicas, anti-inflamatórias, relaxantes musculares, antiespasmódicas, broncodilatadoras, neuroprotetoras e estimulante do apetite. Além disto, a administração de THC aparentou aumentar a concentração de endocanabinoides e o número de receptores CB1, além de sua sensibilidade aos mesmos. Isto um claro indício que esta molécula também estimula o sistema canabinoide a funcionar melhor por si só.
Curiosamente, esta molécula pode funcionar também como um antagonista em receptores CB1 em diferentes atividades metabólicas. Em neurônios em alta atividade, o THC aparenta mediar um antagonismo, inibe a liberação de neurotransmissores e cessando as crises. Acredita-se que diferentes proteínas G possam mediar este processo, e que este seja o mecanismo pela qual a Cannabis age no tratamento de epilepsias.
Em animais intoxicados acidentalmente por esta molécula, podemos observar letargia, confusão mental, vômitos, incontinência urinária, taquicardia e desidratação. Vale lembrar que esta molécula por si só não causa óbitos e o tratamento sintomático, quando necessário, deve ser mais que suficiente em 99% dos casos. Supõe-se que não ocorrem óbitos devido a sua capacidade de reduzir, mas não bloquear totalmente a transmissão glutamatérgica.
Muitos dos casos que vemos atualmente, em especial nos países onde a Cannabis é legalizada para uso adulto, são pacientes de pequeno porte ingerindo quantidades extremas desta molécula em concentrados, ocasionando em uma possível aspiração pulmonar de alimentos, água ou refluxos gástricos devido a sua incoordenação motora e letargia. Além disso, boa parte dos produtos destinados aos humanos contem alimentos tóxicos para os animais, como uva passa e chocolate, ocasionando intoxicações muito mais severas quando comparadas às causadas pelo THC.
Deve-se atentar também a desidratação prolongada e taquicardia em pacientes com cardiopatias prévias, mas em linhas gerais, na realidade brasileira, acomodando pacientes intoxicados em um ambiente calmo, escuro e silencioso, os efeitos do THC deverão passar dentro de algumas horas. Os animais acometidos devem ser observados para todos os sinais descritos, e o tratamento sintomático administrado quando ocorrerem.
Deve se lembrar também que o tratamento na Medicina Veterinária não objetiva "chapar" os pacientes de forma alguma, e quaisquer sinais de intoxicação deve ser um alerta vermelho para a diminuição da dose.
Concentrações de THC mais altas podem ser utilizadas para pacientes mais com condições mais severas, como os de Câncer, Epilepsia, e com dores crônicas mais intensas.
A outra molécula encontrada em grande parte na planta Cannabis é o Canabidiol, ou CBD.
Ela possui baixo agonismo pelos receptores CB1 e CB2, embora novos estudos estejam demonstrando que ela aja nos mesmos por outros mecanismos. O CBD aparenta inibir a enzima que degrada os ECBs, aumentando seu tempo de meia vida. Além disso, assim como o THC, ela aparenta antagonizar os receptores dependendo da atividade celular e concentrações administradas.
A administração de CBD diminuiu a liberação do fator de necrose tumoral alpha em roedores, responsável por sinais como edema e vasodilatação. Além disso, esta molécula aparenta inibir a migração e multiplicação de macrofágos e neutrófilos devido a seu agonismo inverso nos mesmos. O CBD também apresenta efeitos anti-eméticos, anti-psicóticos e ansiolíticos, e já foi utilizado para o tratamento de artrites reumatoides, doença inflamatória intestinal e esclerose múltipla, com resultados variando de medianos a excelentes.
Além do THC e CBD, já foram descritos mais de 90 fitocanabinoides minoritários, e mais de 100 outras como terpenos e flavonoides. O perfil completo delas é importantíssimo para a terapêutica. Extratos completos da planta, que possuem todas estas moléculas em diferentes concentrações apresentam uma maior eficiência, junto com uma diminuição dos efeitos colaterais. Isso ocorre devido a uma sinergia das mesmas, denominado "Efeito Comitiva".
Os canabinoides minoritários serão abordados em outros posts no futuro, juntamente com o efeito comitiva!
Este é o terceiro (e último) post da sequencia de lançamento do site. Espero que o assunto Cannabis medicinal juntamente com o sistema endocanabinoide estejam um pouco mais esclarecidos para vocês!
Obrigado a todos que acompanharam até aqui!
Gostou do texto, tem sugestões ou perguntas?
Deixe um comentário e se inscreva na nossa newsletter para receber notificações no lançamento dos próximos posts!