Governo segue com o plano para interromper vacinação da febre aftosa
Analistas se dividem entre as vantagens da redução de custos e o risco da doença voltar no futuro
Em abril deste ano o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) anunciou o PNEFA - Plano Estratégico do Programa Nacional de Febre Aftosa, como parte de uma estratégia do governo federal para conquistar novos mercados. Na semana passada, o Mapa aprovou a versão definitiva do plano, por meio da Portaria nº 116, publicada nesta segunda-feira (02/10/2017), no Diário Oficial da União. O conjunto de normas traz as ações que serão desenvolvidas para o Brasil tornar-se área livre da doença sem vacinação a partir de 2023.
A versão final do PNEFA foi elaborado com sugestões de todos os segmentos envolvidos na pecuária bovina, em debates realizados durante todo o primeiro semestre de 2017. Entre as mudanças em relação à versão inicial, está a reorganização dos blocos de Estados.
Heitor Medeiros, coordenador geral de Sanidade Animal do Mapa, afirma que "O objetivo principal é criar e manter condições para garantir o status de país livre da febre aftosa e ampliar as zonas livres de febre aftosa sem vacinação"
O país foi dividido em cinco blocos, e deve iniciar a retirada da vacina pelas regiões de menor risco. Acre e Rondônia serão os primeiros estados a abandonar as campanhas de vacinação, em 2019.
A febre aftosa é uma doença contagiosa que é provocada pelo vírus da família Picornaviridae, gênero Aphthovirus e atinge animais bovinos, caprinos, ovinos, porcos e todos os ruminantes selvagens. Os principais prejuízos são econômicos e atingem tanto os pequenos quanto os grandes pecuaristas. Além de poder levar os animais à morte, a doença é de grande importância na pecuária de corte, por ser de disseminação rápida e impor a necessidade de eliminação dos animais contaminados com perda total da produção.
Os últimos focos ocorreram em 2005 nos Estados de Mato Grosso do Sul e Paraná, o que levou à suspensão da condição de zona livre nestes dois estados e em outros dez, inclusive São Paulo. Desde 2006 não ocorreram mais focos da doença.
O argumento dos defensores do plano é que a retirada da vacinação sinaliza ao mundo que o controle sanitário local é confiável, a ponto de dispensar a imunização, e abre caminho para mais mercados.
Para o médico veterinário Emílio Carlos Salani, vice-presidente executivo do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Saúde Animal (Sindan), o impacto que um possível retorno da doença seria muito maior do que continuar vacinando.
A reintrodução da doença pode criar um impacto muito pior do que continuar vacinando. É preciso desmistificar a ideia de que ganhar mercado depende do status de livre com vacinação ou livre sem ela. O Uruguai, por exemplo, que é área livre com vacinação usando cerca de 80% de vacina brasileira para imunizar o seu rebanho, não tem restrição de exportar carne para nenhum lugar do mundo. No Brasil, a aftosa tem um viés político muito forte, é uma bandeira.
A divulgação do plano de suspender a vacinação de aftosa no Brasil tem causado inquietação na região de fronteira com o Uruguai e Argentina. Produtores da Argentina e do Uruguai têm visto com reservas o fim da imunização, sob a alegação de que a decisão deveria ser tomada em conjunto e ressaltam a necessidade de uma maior fiscalização nas fronteiras.
Veja mais:
- Não somos contra a suspensão da vacinação da febre aftosa - Entrevista que o médico veterinário Emílio Carlos Salani, vice-presidente executivo do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Saúde Animal (Sindan), concedeu à Dinheiro Rural.
- Mapa anuncia plano para acabar com vacinação contra aftosa
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